Cientistas: Início

“Cientistas mudam DNA de embriões humanos…”
“Cientistas anunciam descoberta de novo ancestral do homem…”
“Cientistas encontram água líquida em Marte…”
“Cientistas apresentam primeiro coração impresso em 3D…”
“Cientistas ressuscitam cérebro de porco…”
“Cientistas divulgam primeira imagem de um buraco negro…”

Na última década temos sido surpreendidos por notícias do meio científico que parecem ter saído dos filmes de ficção dos anos 90. Vivemos a era de grandes descobertas, onde a curiosidade do homem não encontra limites, e a humanidade é levada pela ciência às fronteiras do conhecimento. Desde a Revolução Industrial, experimentamos avanços notáveis no campo científico e tecnológico, onde cada nova invenção se torna a base para uma descoberta posterior. A curiosidade e a sede do homem por descobrir as leis que regem o universo e sua relação com a matéria sempre estiveram presentes, contudo foi a partir do século XVIII que o conhecimento técnico e científico da humanidade pôde ter uma aplicação prática, resultando a partir daí em dois séculos de grandes transformações na sociedade, alterando de forma expressiva seu comportamento, suas relações, suas instituições e seu vínculo com a tecnologia.

A estrutura de dupla hélice de DNA

Grandes invenções surgiram… e revolucionaram o modo de vida moderno. A lista é infindável. Podemos citar por exemplo a máquina a vapor, o telefone, o motor de combustão interna, o automóvel, o avião, o rádio, a televisão, o transístor, os antibióticos, os satélites, o computador pessoal, a Internet, e por aí vai. No campo da arqueologia, além da já famosa datação por carbono 14, tecnologias de ponta têm contribuído para auxiliar os pesquisadores a desvendar mistérios com milhares de anos de idade, como a tecnologia LIDAR (Light Detection And Ranging).

O lançamento do Saturno V com a Apollo 11 em 16 de julho de 1969

E quanto mais as investigações arqueológicas desvendam a história de antigas civilizações, mais ficamos fascinados sobre os estilos de vida de seus povos. Por que será que isso acontece?

Cerca de 1200 anos separam os reinados do faraó egípcio Quéops (Quarta Dinastia) e Tutancâmon (Décima Oitava Dinastia). Se duas pessoas, uma vivendo na quarta dinastia e a outra na décima oitava, trocassem de lugar, provavelmente não notariam diferenças significativas no mundo ao seu redor. As vestimentas, os costumes, a arquitetura, o modo de falar, tudo isso seria familiar. Mas imagine-se voltando ao século IX… você estaria testemunhando simplesmente o início do uso da pólvora em armas de guerra. Ou imagine qual seria a reação de um chinês da Dinastia Tang caindo em pleno século XXI, no meio de uma Times Square abarrotada de pedestres correndo para comprar os presentes de natal deixados para a última hora…

Olhando para o passado, como você reagiria se estivesse diante desses impérios? Com admiração? Ou assombro? É esse o fascínio que as pessoas têm ao estudar as civilizações antigas.

Temos a tendência de acreditar que o estilo de vida e o comportamento da sociedade é imutável, porém nada poderia ser mais equivocado. Especialmente a partir do início do século XXI, temos experimentado avanços tecnológicos tão expressivos, e em tantas áreas do conhecimento, que o modo de vida da sociedade em geral passou a se modificar não em uma escala de décadas, mas em uma escala de poucos anos.

“Conhecimento é poder.”

Basta pensarmos que há pouco mais de dez anos poucas pessoas sabiam o que era um smartphone – atualmente um dispositivo tão indissociável do ser humano quanto nossas roupas e calçados – e que começou a se popularizar em meados de 2007 com o lançamento do primeiro iPhone. Poucos anos depois, e agora temos no Brasil mais aparelhos celulares do que habitantes, a aquisição de um modelo básico está bastante acessível, e costumamos trocá-los por outros mais modernos e potentes a cada 3 anos. Mais do que somente avanços tecnológicos, a disseminação da telefonia transformou a forma das pessoas se comunicar, se comportar e se informar.

Agora, voltemos mais alguns anos. Há cerca de 20 anos, os smartphones estavam ainda despontando no horizonte com os primeiros “BlackBerries”, a internet (outra ferramenta revolucionária), começava a se popularizar no Brasil e o PlayStation 2 era lançado pela Sony. Voltemos um pouco mais… Há quase 70 anos, o primeiro transplante de órgãos estava sendo feito. Nos anos 40, era criado o primeiro computador, o ENIAC, e o primeiro transístor. E o Japão sofria o horror de duas bombas nucleares. No século XIX, surgia a teoria do eletromagnetismo, tivemos a criação da fotografia, da pilha elétrica e a transmissão de eletricidade a longas distâncias por corrente alternada.

Estátua de Isaac Newton na capela da Trinity College, Cambridge. Wikimedia Commons

Há pouco mais de 3 séculos, em 1687, era trazido à luz um dos livros de ciências mais importantes de todos os tempos: Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, de Isaac Newton. Alguns anos antes, Antoine Van Leeuwenhoek descobria a riqueza da vida microscópica em pequenas gotas de água. Ainda no século XVII, a observação dos satélites de Júpiter, da lua e das estrelas com o auxílio de um telescópio levou Galileu a defender o sistema heliocêntrico de Copérnico. Sua publicação, Sidereus Nuncius, considerada a origem da moderna astronomia, provocou o colapso da teoria geocêntrica, abalando os alicerces da Igreja Católica, poderosa instituição que era a grande força política da Idade Média…

Como podemos perceber, a única coisa que nunca muda é a mudança. Estamos sempre evoluindo, sempre fazendo novas descobertas, adquirindo conhecimentos e tecnologias. Mas se todas as coisas têm um princípio… quando a Ciência nasceu, e por quê?

“Em uma visão cronológica a ciência nasceu como uma tentativa de se achar respostas para os questionamentos humanos, questionamentos como “o que há lá fora?”, “do que o mundo é feito?”, “qual é o segredo da vida?” e “como chegamos até aqui?”. Mais do que capaz de satisfazer a curiosidade, mostrou-se gradualmente como uma verdadeira ocupação, inspirando trabalhos de vidas inteiras. Isso porque percebeu-se que, por meio da observação e experimentação – o método científico – era possível não só compreender o mundo que nos cerca mas também a nós mesmos, isso de forma a impelir o desenvolvimento de novas tecnologias e, assim, melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Capa do Sidereus Nuncius, 1610, de Galileo Galilei (1564-1642)

Nesse sentido, embora não exista por si só e sim como uma produção humana, a ciência é, de longe, a ferramenta mais indispensável à manutenção do progresso.

Com um longo caminho ainda a trilhar antes de atingir a definição e status atual, o (com ressalvas) chamado “pensamento científico” surgiu na Grécia Antiga com os pensadores pré-socráticos que foram chamados de Filósofos da Natureza e também Pré-cientistas. Nesse período a sociedade ocidental pela primeira vez ousou abandonar a forma de pensar baseada em mitos e dogmas para estabelecer uma nova forma de pensar, uma forma de pensar naturalista baseada no ceticismo.

O pensamento dogmático coloca as ideias como sendo superiores ao que se observa. O pensamento cético coloca o que é observado como sendo superior às ideias. Para a ciência uma teoria é composta por um corpo de fatos e ideias, e se observarem-se fatos que comprovem a falsidade da ideia, o cientista tem a obrigação de modificar ou reconstruir a teoria.

Na época de Sócrates e seus contemporâneos, o pensamento científico se consolidou, principalmente com a difusão do conceito de prova científica atrelado à observância de repetição do fenômeno natural.

Embora não se encontre na Grécia antiga a definição de ciência em moldes modernos, é nela que encontra-se o primeiro passo para se alcançá-la. Tanto as religiões como a ciência tentam descrever a natureza. A diferença está na forma de pensar. O cientista não aceita descrever o natural com o sobrenatural, e para ele é necessária a observação de evidências que eventualmente falseiam as ideias. Para um cientista a ciência é uma só, pois a natureza é apenas uma. Sendo assim, as ideias da física devem complementar as ideias da química, da paleontologia, geografia e assim por diante. Embora a ciência seja dividida em áreas, para facilitar o estudo, ela ainda continua sendo apenas uma. […]” (WIKIPEDIA. Ciência)

Aristóteles, 384-322 a.C., uma das primeiras figuras no desenvolvimento do método científico

Contudo, embora o pensamento científico tenha se iniciado na Grécia com estes Filósofos da Natureza e Pré-cientistas, muito de seu conhecimento só chegou aos nossos dias graças aos árabes.

A partir do século VII, teve início uma grande expansão e aperfeiçoamento da língua árabe e da ampliação do conhecimento a partir do idioma. Devido à expansão geográfica feita neste período, os árabes entraram em contato com diversas culturas como a grega, a hindu, a chinesa, a bizantina e a persa. A partir disso, passaram a conhecer os escritos antigos e vertê-los para o árabe, aperfeiçoando-se na técnica de tradução e divulgação do conhecimento.

Em meados do século VIII o Califado Abássida transferiu a capital de seu império de Damasco para Bagdá, estimulando a ampliação do conhecimento através das traduções de textos existentes. Entre os manuscritos traduzidos para o árabe estavam textos desaparecidos de Ptolomeu, Euclides, Galeno e tantos outros provenientes das ciências antigas.

Foi criada então a Casa da Sabedoria: uma biblioteca e centro de traduções estabelecido à época do Califado, em Bagdá. Foi uma instituição chave no “Movimento das traduções”, tendo sido considerada o maior centro intelectual durante a Idade de Ouro do Islã.

Baseados em textos persas, indianos e gregos, os estudiosos acumularam uma grande coleção de saber mundial, e desenvolveram sobre essas bases as suas próprias descobertas. Bagdá era conhecida como a cidade mais rica do mundo e centro de desenvolvimento intelectual do momento, tendo uma população de mais de um milhão de habitantes e sendo a mais povoada da época.

Vale ressaltar que, enquanto o conhecimento e a ciência floresciam entre os árabes, a Europa vivia em obscurantismo. Graças aos árabes muito do conhecimento foi salvaguardado e aprimorado para depois ser transmitido aos europeus e ao Ocidente, possibilitando um novo despertar da humanidade e do chamado mundo civilizado.

“A tinta da pena de um sábio é mais sagrada que o sangue de um mártir.”

Maomé

Agora, mais do que nunca, a Ciência tem sido a grande responsável pelas transformações tecnológicas que têm suportado as incríveis realizações da humanidade em diversos ramos do conhecimento, e é inegável sua participação na melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo.

A ciência liberta. Ela nos oferece a possibilidade de nos livrarmos do medo do desconhecido. A ciência iguala, pois ao lançar luz sobre os mistérios da nossa origem, nos damos conta de que a gênese de todos os seres vivos é uma só. A ciência nos torna fraternos. Ela constrói pontes sobre as quais pesquisas do mundo inteiro convergem no intuito de elucidar mistérios que transpõem tempo e espaço, carregando consigo milênios de indagações, curiosidade, reflexões, experimentos, e deixando como resultado a admiração, o fascínio e o assombro.

Ontem falávamos de bússolas, lunetas, dirigíveis, telégrafos… hoje falamos de GPS, telescópios espaciais, foguetes, smartphones, aceleradores de partículas, edição de DNA, buracos negros… Em nossa seção Invenções, estamos tratando das criações que os primeiros humanos produziram, e que possibilitaram que evoluíssemos de uma mera espécie de caçadores-coletores aos seres dominantes do planeta.

“A Arqueologia remonta o passado. A Ciência constrói o futuro.”

Essa é minha

Em nossa nova seção, falaremos dos feitos dos grandes pensadores e estudiosos que não se pautaram em apenas observar o mundo físico ao seu redor, mas se tornaram os agentes propulsores de um novo ramo do conhecimento, tentando buscar respostas aos questionamentos seus e de outros, e contribuíram assim para o surgimento das invenções que, atuais ou não, fizeram parte da história humana.

Seja bem-vindo.


Referências:

Arte do cabeçalho e do slide na homepage: Maxime Turpin (Maxime é webmaster do site francês Tombeau Croft).

Os árabes e suas contribuições para a ciência e medicina. Instituto da Cultura Árabe

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